sábado, 16 de abril de 2011

Primeiros dias em Java

É impressionante como o ser humano é adaptável. Tem coisas que acontecem comigo que só depois que paro pra pensar me dou conta do absurdo que foi. E foi assim minha ida pra Java.

Peguei uma van que me levou de Kuta, em Bali, até Probolinggo, em Java. Só indonésios, e ninguém falava inglês direito. Me colocaram no banco da frente, entre o motorista e um outro cara que tava sentando na janela. Tinha lugar na van, e eu queria ir atrás pra me encostar na janela e dormir melhor, mas eles me falaram que eu não podia ir lá. Bom, fazer o quê. Cheguei em Probolingo as 4h da manhã, e queria ainda tentar fazer o tour pra ver o nascer do sol no Bromo no mesmo dia. O cara da van me deixou em uma agência, e claro que fui extorquida pelo fato de só ter aquela agência naquele lugar e naquele horário. Aí aprendi que tudo, mas absolutamente TUDO deve ser checado antes de fazer qualquer pagamento. Depois de pagar pelo tour, me colocaram em uma moto com um cara e falaram que primeiro eu ia com ele. No meio do caminho perguntei pro cara onde a gente tava indo. Ele me disse que pra casa dele, pra eu deixar minhas coisas lá durante o tour. Chegamos na casa dele e acordamos a esposa dele e a filha, que ficaram espiando atrás da porta. Deixei minhas coisas na garagem e só aí me informaram que o tour seria feito de moto, e não de carro. 1 hora e meia de viagem. Dei uma reclamadinha mas me conformei e fui. No meio do caminho, o cara que tava me levando me perguntou: tu tem óculos de sol? Sim, ainda bem que estava com eles na minha bolsa! Mas por que? Por causa da atividade do vulcão tem muita cinza no meio do caminho, então é bom pra proteger os olhos. Quando alguém diz que tem muita cinza, não se imagina o que é muito. E era realmente muuuuuito! Nem os óculos de sol adiantaram, fechei os olhos e assim fiquei praticamente durante a viagem toda, era impossível manter abertos. Desejei ter um óculos de mergulho naquele momento. Chegando no topo, ele olha pra mim e tem um ataque de riso. Conheço muita gente que nesse momento ia surtar de raiva com toda a situação.

Finja que nada está acontecendo e sorria!


O Bromo é um vulcão que voltou a atividade em novembro do ano passado. Muita gente vive em volta do vulcão, porque é uma região extremamente fértil. Porém, com as cinzas do vulcão, todas as plantações foram destruídas, e a única coisa que eles fazem agora, até que o vulcão pare novamente, é varrer todo dia, sem parar, pra tentar manter a casa limpa. Eles tem pás também pra tirar as cinzas da frente das casas. Assim como as pessoas fazem em países com a neve, eles fazem com as cinzas. Durante esse período, o governo ajuda eles financeiramente, pois eles simplesmente não tem mais do que viver.

Cidade cinza.

Plantações cinzas.

De volta a casa onde havia deixado minhas coisas, estavam nos esperando com um café da manhã enorme! Tudo servido no chão da garagem, o que pra gente é um absurdo mas pra eles super normal. E o chão era limpíssimo também, de lajota clara, não se via uma sujeira! No café da manhã tinha banana empanada frita, arroz, peixe frito, peixe seco, uma lula ensopada deliciosa, diversos tipos de pimenta, água pra beber. É assim o café da manhã na Indonésia. E a comida é muito boa em geral, mas praticamente tudo é frito, difícil encontrar alguma comida saudável.

Bom, aí eles tavam tentando me vender um tour pro Ijan (outro vulcão) para o mesmo dia, que saía dali em 2 horas. Mas o preço era absurdo! E em Java é muito mais difícil negociar valores que em Bali, eles resistem muito até darem algum desconto. Falaram que de jeito nenhum podiam fazer o preço que eu queria – estavam me pedindo 550 mil, eu queria pagar no máximo 400 mil ( o que equivale a 40 dólares). Aí falei que não, que estava podre de cansada, então que me levassem pra um hotel e eu ia decidir com calma o que fazer, depois de dormir. Aí acabaram cedendo no preço, e fui.

Pra chegar no Ijan o único caminho é por uma estrada que não dá nem pra acreditar no estado. O motorista da van tinha um ajudante, que de tempos em tempos descia do carro pra orientar qual o melhor jeito de passar pelos buracos. Nunca vi coisa igual! A sensação é de que a gente não ia chegar nunca! Mas chegamos. Dormimos em um hotelzinho pra subir o Ijan no dia seguinte.

Passei a noite mal, e no dia seguinte quase desisti de chegar ao topo do vulcão, de tão mal que estava. Parei, respirei por uns 10 minutos e segui. Não tinha ido até ali pra ficar no meio do caminho e ver as fotos dos outros com arrependimento depois. E ver o pessoal que trabalha ali, subindo e descendo aquele morro de chinelo, sempre com um cigarrinho no canto da boca, e carregando por volta de 20 quilos de enxofre nos ombros, pra ganhar por volta de 5 dólares por dia, também me motivou. Segui até o fim e valeu a pena. Acho que o cheiro do enxofre acabou me ajudando também a melhorar, porque quando desci já não sentia mais nada!

Cratera do Ijan.

E segui viagem para Jogjakarta.

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