domingo, 27 de março de 2011

A reconstrução de Darwin

Durante o período de chuva (de novembro a abril), Darwin recebe a visita constante de ciclones, como o último, Carlos, que segundo os darwinianos foi só um vento forte, e não um ciclone de verdade. O resultado pode-se ver até agora: são diversas árvores enormes caídas em ruas e parques da cidade. Mas nada se compara ao Tracy.

Uma das árvores caídas em Darwin.

O ciclone Tracy chegou em Darwin no Natal de 1974. Naquele tempo, a arquitetura predominante eram casas de palafitas, Darwin era um balneário de férias para muitos australianos. O ciclone destruiu 70% da cidade, inclusive construções de pedra, que hoje viraram pontos turísticos. Mas o mais incrível foi o processo de reconstrução. Depois do ciclone, a cidade inteira foi evacuada e os habitantes só voltaram quando já estava tudo pronto novamente. O museu de Darwin tem uma sessão bastante extensa sobre o Tracy, mostrando o antes e o depois, e com uma pequena sala onde se pode ouvir o som do ciclone (o que deve ser bastante assustador até hoje para quem presenciou o evento).

Ruínas da antiga prefeitura.

quarta-feira, 16 de março de 2011

The Top End

Darwin é o tipo de cidade que se leva um tempo pra entender. Cheguei aqui como último destino da minha estada na Austrália, pra passar uma semana antes de ir pra Indonésia. Como nada na minha viagem foi planejado, não sabia que era temporada de chuva - chove todos os dias, o tempo inteiro, sem parar. E também não tinha ideia de que Darwin é a menor das capitais do país.

O primeiro impacto foi de choque: não tem nada pra fazer nesse lugar! É a sensação que dá, principalmente depois de ter passado por Cairns. Peguei o mapa da cidade que sugere um caminho com 18 atrações da cidade e dividi em três, pra fazer render. Entre os dois parques nacionais daqui, Kakadu e Litchfield, decidi ir somente pra Litchfield, que é mais perto e os tours mais baratos, e segundo muitos é mais bonito. Já tinha atividade para quatro dias. Contando que isso era tudo, decidi relaxar e aproveitar essa semana para descansar, ler e atualizar o blog. Hoje é meu último dia aqui e o resultado é que não consegui fazer tudo que queria.

Conhecer pessoas locais é sempre a melhor maneira de se conhecer uma cidade. E os darwinianos têm orgulho e prazer em mostrar sua terra, e em dizer que essa é a verdadeira Austrália, perto do outback e na beira do mar. Foram dois os principais responsáveis pela minha mudança de opinião: Alison e Jeremy. A Alison conheci em uma aula de swing que descobri em um clube local: ela já dança salsa, mas nunca tinha tentado swing, assim como eu. Conversamos bastante antes da aula, e ontem ela me buscou no albergue pra me mostrar um pouco mais da cidade. Fizemos um tour de carro pelas praias, todas com calçadão e parques na frente bastante convidativos para uma caminhada no final da tarde. Vi Cullen Bay e suas casas na beira da marina, com iates estacionados na frente, além de Mindil, Fannie Bay, Nightcliff e Casuarina Beach.


Cullen Bay.


Piscina natural na wharf.


Também na wharf, piscina artificial com ondas.

O Jeremy conheci pelo Couchsurfing. Pedi pra ele me hospedar, mas como no momento ele está morando com um amigo, não pôde me receber, mas se ofereceu para mostrar a cidade. Com ele experimentei hambúrguer de crocodilo e de camelo na Wharf (um local típico entre os locais), onde mesmo à noite se podem enxergar os peixes gigantes só esperando que alguém jogue os restos de batata frita. Também foi ele que me apresentou os famosos mercados de final de semana, e a linda praia de Casuarina.

Jeremy com o hamburger de crocodilo, eu com o de camelo.


Mercado em Parap. Em primeiro plano, quiabo gigante.


Praia de Casuarina.

 
Darwin me pareceu uma cidade legal pra se morar, cheio de empregos disponíveis (o pessoal chega aqui no albergue e consegue emprego no dia seguinte), pouquíssimos brasileiros e tranquila, o que se torna mais fácil de economizar dinheiro.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cairns

Cairns não para. Mesmo com toda a chuva, os albergues estão sempre lotados e os tours muitas vezes sem vagas. Parece ser a Queenstown da Australia: rafting, trilhas em florestas, cachoeiras, bungee jumps,... E festas todas as noites, em diversos bares. Tive sorte de mesmo na temporada de chuva pegar uns 4 dias de sol na cidade, o que deu pra aproveitar a piscina que eles tem na beira da praia (que obviamente é inviável para banho, devido aos crocodilos e águas vivas) e fazer mergulho.

Lagoon, a piscina de Cairns.


O mergulho por sinal é imperdível! Nunca tive muita vontade de fazer, mas decidi experimentar porque me senti na obrigação, já que estava na maior barreira de corais do mundo. É mais fácil do que eu imaginava que fosse, e a sensação de ficar horas debaixo da água sem ter que voltar pra pegar ar é muito boa. Não vi nenhum tubarão (o que na verdade me deu até um alívio!) nem tartaruga, mas peixes gigantes e corais que respiram, que se fecham com o toque, pepinos do mar e uma série de outras coisas que é impossível de descrever.

O coral que respira.


Peixinhos.

Pies australianas

São as culpadas pelo meu aumento de peso na Austrália, tenho certeza. Uma pie por dia, na hora do almoço, cada uma com um recheio diferente: tradicional de carne, carne com queijo, carne com champignon, frango ao curry, vegetariana,... E todo lugar que vende já ganhou algum prêmio por algum sabor específico, aí fica difícil de resistir.


As pies.


Os caminhos pra Fraser Island e a situação dos aborígenes

São dois os caminhos que levam a Fraser Island: Rainbow Beach ou Hervey Bay. Depois de ouvir opiniões diferentes sobre de onde deveríamos partir, decidimos ir conhecer os dois. E acho que valeu a pena, porque não consigo dizer de qual dos dois gostei mais. Rainbow Beach é menor, menos visitada por turistas, com uma praia de areia extensa e firme, cercada de rochas de onde vertem pequenos fios d’água. Como praia, é mais bonita.

Rainbow Beach.

Por outro lado, em Hervey Bay ficamos em um dos melhores campings até agora: AU$ 18 a diária, com café da manhã incluso, piscina, hidromassagem, quadra de tênis e ping-pong. E foi também em Hervey Bay que conhecemos Scrub Hill, a comunidade/projeto aborígene de maior sucesso na Austrália.

A situação dos aborígenes infelizmente é muito pior do que as dos maoris na Nova Zelândia. O governo os ajuda financeiramente como uma forma de se desculpar pelo que fizeram com eles no passado, mas o fato é que há ainda muito preconceito e os mesmos vivem como mendigos pelas ruas, principalmente mais ao norte da Austrália. Dificilmente conseguem empregos, não são admitidos em bares e restaurantes e a desculpa para isso é a imposição de regras de vestimenta diferentes do que seria o tipicamente utilizado pelos aborígenes. Foram milhares de tribos que se desfizeram quando os europeus chegaram na Austrália e levaram as crianças para serem catequizadas em missões. São poucos atualmente que sabem a que tribo pertencem. E por terem sofrido um passado de abusos, se tornou quase uma iniciação para a vida adulta que antes dos 20 anos se tenha passado pelo menos alguns meses atrás das grades.

Scrub Hill é atualmente coordenado por Norman e sua mãe, que é um exemplo para toda a comunidade. Tendo ouvido de seu filho que os professores ignoravam perguntas de crianças aborígenes, conseguiu permissão para visitar escolas e ter certeza de que todos estavam sendo tratados da forma como deveriam ser. Com esforço conseguiu comprar terras consideradas envenenadas devido a minas de alumínio que a cercavam, e a partir daí criou uma fazenda orgânica onde emprega e educa aborígenes e a todos que tiverem interessados em conhecer como eles vivem e tudo que aprenderam com seus antepassados: o uso de ervas medicinais, a manufatura de bumerangues, etc. Segundo Norman, eles recebem muito mais visitas de estrangeiros que dos próprios australianos.

Agora, não seria muito mais interessante fazer tours e ouvir as histórias da boca de um aborígene, que vive nessas terras ao que se estima ser aproximadamente 50 mil anos? Por que Austrália não educa mais seus ancestrais para uso na indústria turística?

Norman explicando que é da raiz dessa árvore que se faz o bumerangue.

domingo, 13 de março de 2011

Gold Coast x Sunshine Coast

Não entendo todo esse frenesi que as pessoas têm sobre Gold Coast. Nenhuma praia se destaca pela beleza, prédios enormes na beira mar, achei tudo meio sem graça. Fui pra Sunshine Coast já com expectativa baixa, esperando mais ou menos a mesma coisa. Pois não é! Sunshine é muito mais bonita, eu diria que todas as praias. Caloundra é perfeita pra quem faz kitesurf, deu até vontade de aprender! Maroochydore tem um por do sol incrível, e Noosa é a minha preferida, com um parque nacional na beira da praia.

Kitesurf em Caloundra.


O caminho pra praia de Noosa.


Noosa.


Ficamos três dias em Noosa e infelizmente tivemos que seguir viagem... O tempo é apertado e temos que chegar a Cairns, no nordeste da Austrália, em no máximo sete dias.

A Arembepe australiana

A cerca de 1 hora de distância de Byron Bay, no meio de vales e montanhas, se encontra Nimbin, um local que me havia sido recomendado para descansar. O que não tinham me falado era sobre a história e fama do lugar.

Nimbin é uma cidade verde. São várias as fazendas orgânicas que cercam a pequena cidade, que desabrochou depois de sediar o Aquarius Festival, em 1973. Os hippies chegaram pro festival e de lá nunca mais saíram. Proclamam atualmente a pequena vila de capital australiana da maconha. E com toda razão. Tudo faz alusão a erva: os nomes dos bares, as pinturas nas paredes, as pessoas na rua. Impossível conseguir qualquer tipo de informação de um passante, estão todos muito chapados pra dar qualquer resposta com coerência.

Hemp Bar, e as regras de conduta das ruas de Nimbin.


Rua principal de Nimbin.




De tão caricaturesco chega a ser engraçado. O museu da cidade é uma coleção de pinturas, frases e objetos que só fazem sentido por não terem sentido nenhum!

Entrada do museu de Nimbin.


Logo na entrada, uma senhora de aproximadamente 50 anos se oferece pra tirar uma foto que segundo ela é o melhor ângulo do museu. Assim que entrego minha câmera pra ela, ela mira pro teto e aperta o botão. Impossível não se divertir com a cena! A mesma senhora segue acompanhando e apontando tudo o que ela considera que deve ser observado com mais atenção: a frente de uma combi, um relógio de parede quebrado, um pedaço de uma boneca Barbie... Não, ela não trabalhava no museu nem era guia local, mas uma hippie que via magia nas pequenas coisas da vida. Assim como todos os cidadãos Nimbinianos.  

A sensacional foto do teto do museu!

Byron Bay

Minha praia preferida na Austrália, sem dúvida. O estilo da cidade, com a avenida principal chegando até a praia, o clima zen com que as pessoas caminham e curtem uma música ao vivo a noite em um dos bares quase na areia, me lembrou um pouco Garopaba, porém com uma estrutura melhorada. O camping em que ficamos era na beira da praia, a uns 5 minutos a pé do centro.

Byron Bay.


As praias perto de Byron também são legais, valem a pena a visita. Lennox Heads é a minha favorita entre elas, que acabamos conhecendo graças ao mercado itinerante de domingo que roda entre as praias da região.

Lennox Heads.


Eu no mercado de Lennox Heads.

Todas as praias são boas para surf, e eles não perdem a oportunidade de oferecer aulas de surf em toda parte. Achei que era hora de aprender também e peguei uma prancha emprestada pra tentar. Na sétima onda já estava de pé, toda orgulhosa! Mas como que faz mesmo pra ficar de pé em um pulo só? Eu ainda passo pela fase de ficar de joelho antes, o que dizem que é mais difícil. E o que acaba com as pernas também! Fiquei cheia de roxos, que se intercalaram com as picadas de mosquitos adquiridas ao longo da viagem. Mas é o preço que se paga...

East Coast em uma campervan

De Sydney a Cairns, parando em todo e qualquer lugar que queria ou que nos parecia interessante, foi assim que conheci a costa leste da Austrália. Um amigo descolou uma van de graça e me convidou (ou me convidei?!) pra acompanha-lo nessa emboscada, que durou exatas 2 semanas.

O que aparentemente soa barato, acabou não saindo tão barato assim. Uma van consome muito mais combustível do que se pode imaginar. Nos dias em que tínhamos que dirigir o dia inteiro, eram uns 3 tanques, de mais ou menos AU$ 80 cada. E pelo fato da Austrália ter campings por todos os lados, não dá pra estacionar a van e dormir onde quiser. Cada camping custa em média AU$ 30 a diária. Mas por outro lado existe a flexibilidade de parar onde quiser e de não ter que ficar carregando malas de um lado pro outro, que é o que mais enche o saco depois de um tempo de viagem.

A van, minha casa por 2 semanas.

A van consistia em uma cama que virava mesa e uma pequena cozinha na parte de trás. Vinha com mesa e banquinhos pra colocar do lado de fora, e compramos uma churrasqueirinha vagabunda pra assar canguru (a melhor carne de todos os tempos!). Sim, tem churrasqueira em todos os campings da Austrália, mas só vendo pra acreditar no que eles chamam de churrasqueira! É uma pia que aquece, basicamente.

Churrasqueira australiana.

Relembrei como gosto de acampar e há quanto tempo não fazia isso. Toda a função de chegar, montar acampamento, cozinhar em fogareiro, ir dormir porque escureceu e acordar com o sol na cara! Pra muitos pode parecer indiada, eu poderia ficar nessas condições durante meses!

Depois da praia: varal, Mark cozinhando e eu tomando uma Coopers pra ajudar. :)

terça-feira, 1 de março de 2011

Os animais estranhos da Austrália

No primeiro dia em que realmente decidi entrar no mar em Sydney, nem bem tinha água no tornozelo e uma pequena, mas diabólica, criatura me atacou. É uma das menores  águas vivas que se encontra nos mares australianos, mas como arde!

Os vilões.

As cicatrizes.


O fato é que a Australia tem praias lindas, mas quando não são as águas vivas, o que pode te atacar é um tubarão ou até mesmo crocodilos, mais ao norte do país. Tá bom, talvez eu esteja exagerando. Mas fiquei receosa depois do primeiro ataque. Pra me achar no mar agora, basta procurar por alguém olhando ao redor ou pros pés o tempo todo. Não vimos tubarão, mas tartarugas gigantes e golfinhos enquanto surfava (o que, desculpa a palavra, já dá um cagaço!). Crocodilos também por enquanto são lenda, mas vi um vídeo de uma guria que está no mesmo quarto que eu no albergue em Cairns de quando ela foi andar de caiaque, o bicho tava do lado!  

Tirando os animais marítimos, tem os terrestres que também tem que tomar cuidado. Nunca tinha visto uma sanguessuga na minha vida, até passar por um dia chuvoso em Nimbin. Tinha uma grudada no meu braço, a impressão que dá é a de que está tentando entrar na pele! Dessa vou ficar devendo foto, porque foi um grito e um peteleco na mesma hora. E em outra ocasião, no primeiro camping que parei, houve uma emboscada preparada pelos possums (um bichinho tipo rato, mas um pouco mais bonitinho). Começaram a cair pinhos de uma árvore, mas muitos de uma hora pra outra, e casualmente todos em cima de nós. Depois de correr pra se proteger, percebemos que era um possum e que ele estava tentando nos afastar do churrasco, pro outro que estava no chão vir roubar nossa carne. Trabalho em equipe, consigo até imaginar eles se comunicando com walkie-talkie escondidos nas sombras, com a musiquinha do Missão Impossível no fundo: tã tã, tã nã nã, tã....

Esse aí é o que ia efetivar o crime, o outro só dava pra ver os olhinhos brilhando em cima da árvore!


E deixo vocês com uma musiquinha do grupo australiano “Scared Weird Little Guys”, que explica bem o que eu falei aqui: